quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Coluna do Mestre

O mais difícil de tudo é decidir se devo tratar o homossexualismo como uma entidade, ou se é para tratar disso como algo trivial. Até quanto ainda é difícil ser gay nos dias de hoje?

Para mim parece que dei sorte. Penso freqüentemente em como seria ter nascido em outra época, ou em outro país: até 2001 homossexualidade era crime da China, na Jamaica gays são frequentemente espancados na rua, quanto tempo o cinema levou para aceitar um filme como “Brokeback Mountain”?

Hoje moro em São Paulo, onde temos a maior parada gay do mundo, existem núcleos GLS por todos os lados, propostas de ruas e até de bairros destinados para este público, onde há respeito e tolerância, acima de tudo. Mas sem querer tocar em assuntos de redação escolar, gostaria de dividir um pouco a minha impressão sobre ser gay nos dias de hoje.

Embora seja sim, ao meu ver, mais fácil, as dificuldades de sair do armário ainda são muitas. Quando ainda estudava, por exemplo, nunca tive muita certeza de como agir, como contar para as pessoas e principalmente se isto deveria chegar um dia a ocorrer. Mas fato é que, existe um momento em que não dá mais para esconder.

Confesso que foi bem menos duro do que imaginava. Assim como tirar um band-aid, assumir pode doer, mas é rápido. A pior parte, sem duvida alguma, é aceitar. Você é criado, por mais “moderninhos” que seus pais sejam, para cumprir certas expectativas, para ser inserido no mundo que eles planejaram para você. Mas chega uma hora em que você é que tem que se adequar ao mundo, e encarar o que a vida preparou para você. Ser sincero com você mesmo é um grande ganho para qualquer indivíduo, e no meu caso, só trouxe benefícios. O afeto e a preocupação dos amigos cresce, a confiança em você mesmo também, o medo do mundo diminui.

E então uma grande nova gama de descobertas se abre para você. Só quem já passou por isso sabe o quanto é complicado você encontrar o “homem da sua vida” em uma festa e não saber se ele gosta das mesmas coisas que você ou então concordar forçosamente quando alguem diz que fulana é “mó gostosa”.

Isso passa. Melhora. Ou a gente aprende a ignorar. Como iniciei dizendo, nós nos acostumamos. Ser gay já não é mais algo tão excêntrico (na falta de uma palavra melhor). Cada dia mais precisamos parar de tratar desse assunto de maneira tão rigorosa. Ser gay não é uma opção, é uma condição, quase como ser negro ou loiro, só que infelizmente envolve o caráter sexual do ser humano. Tabu eterno.

Não assinarei este texto. Não sei se está na hora de levantar a bandeira ainda . Homossexualidade é sim algo trivial, e deve assim ser tratada. O foco deste recado não é apontar uma pessoa como alvo de análises, mas sim mostrar que esse mundo está aí, este “submundo”, como muitos dizem, bem próximo. Eu poderia ser seu irmão, poderia ser seu melhor amigo. Eu poderia ser você.

Por Anônimo

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