quinta-feira, 12 de junho de 2008

Entrelinhas

No ocidente do século XXI, o sexo continua sendo tabu, exprimindo temores religiosos absorvidos pela sociedade. A promiscuidade acoplada ao tema reflete o receio de não serem seguidos os preceitos religiosos ocidentais, principalmente os católicos, separando de forma explícita e pejorativa o prazer sexual pragmático da busca pela espiritualidade. KAMA

A passagem da obra literária sânscrita Kama Sutra pelos mais diversas nações ocidentais culminou nessa separação, na forma da deformação de seu real propósito.

Foi por volta do século IV que o filósofo indiano Mallanaga Vatsyayana compilava o Kama Sutra. Atualmente, o Kama Sutra é encarado somente como a maior e mais famosa enciclopédia de posições sexuais mirabolantes do globo. No entanto, o Kama possui um significado mais substancial.

A obra de Vatsyayana foi escrita em sânscrito para a nobreza indiana daquela época, referindo-se a um dos princípios essenciais na religião hindu: o Kama.

O hinduismo prega que um cidadão venerável deve atingir três metas: Artha, adquirir riquezas; Dharma, ascender em direção à espiritualidade e o Kama, atingir o prazer sexual.

Prazer sexual ser tão importante quanto a elevação espiritual é, incontestavelmente, uma relação igualitária absolutamente abominada pela religião católica, que prega o amor casto. A cultura ocidental rapidamente converteu o sentido espiritual da obra, assim como faz com o próprio ato sexual, para a promiscuidade e a perversão.

A vasta gama de textos indianos sobre o sexo engloba o Kama Shastra, que significa “escola do Kama” e é composta por lendas como a Ratirahasya (Segredos do Amor), a Ananga Ranga (A Arte de amar), a Ratimanjari (A Grinalda do Amor), a Panchasakya (As cinco setas), a Smara Pradipa (A Luz do Amor), a Rasmanjari (O Rebento do Amor), o Anunga Runga (O Palco do Amor) e o próprio Kama Shastra, relatado na introdução do romance Kama Sutra.

kamasutra1

A lenda Kama Shastra narra a experiência sexual do deus Shiva com a esposa Parvarti, contada pelo seu touro sagrado Nandi que observava as relações por entre a fechadura. Toda a vida sexual do deus é detalhadamente narrada, utilizando uma linguagem muito científica. A versão originial possuía 1000 capítulos e sendo resumida por Vatsyayana, chega a versão atual d o Kama Sutra em 36 capítulos. O livro trata de tudo em matéria de sexo, desde prostituição até homossexualismo, passando por sedução e sadomasoquismo, e tudo isso de uma forma científica e ética, lembrando sempre os preceitos da religião hindu. Sexo, ciência e religiões orientais formam um trio opositor forte.

Literatura sexual

Embora seja um dos mais famosos, o Kama Sutra não é o único que lida com sexo. Indicações de 8 livros que falam de amor e sexo na história, no cotidiano e na imaginação.

  • "O Jardim Perfumado do Xeque Nefzaui", Richard Burton
  • "A Ninfomania", D.T. Bienville
  • "Descobrimento Sexual do Brasil", Carmita Abdo
  • "Amor Natural", Carlos Drummond de Andrade
  • "Memórias de Minhas Putas Tristes", Gabriel García Márquez
  • "O Anatomista", Federico Andahazi
  • "Os Crimes do Amor", Marquês de Sade
  • "Histórias de Amor e do Meio do Mundo Prostituto", Rubem Fonseca

Agradecimentos à Gi Nunes, Profº Carneiro, Nah Nader e Mary Ueta.

Por Virgu Laborão

Um comentário:

Anônimo disse...

Então (não é fácil começar por esta palavra, pois sempre vem desacordo, mas não é caso), é sancionável o fato de que pouca gente comente sobre o assunto, sendo ainda um tabu em cantos do mundo neste século XXI.
Mas, realmente, o exagero ocidental foi igual Kama Sutra a Sexo. E não é verdade: na minha visão (que foi refletida, a meu parecer, no artigo), é algo mais sério, mais voltado à Ética de que ao prazer.
Vindo aos elogios, parabéns à Giovanna (desculpe se errar na escrita do nome), Nahia, Mariana e Virgginia: vocês conseguiram dar seriedade a um assunto que, hoje em dia, é objeto de auto-ridicularização; e parabéns ao Professor Carlos Carneiro pela visão literária dada ao trabalho.
Gostaria só de acrescentar um livro, à lista: sei que Paulo Coelho não é literatura, segundo uma grande porção do público, mas, quando estava na Itália, li um livro dele chamado "11 minutos", que retrata perfeitamente a vida sexual de uma prostituta brasileira nas noites vermelhas de Paris. Gostei muito, pois retratava realisticamente da vida desta adolescente, que passava as noites nos prostíbulos.

Parabéns novamente, houveram de merecê-los. Continuem assim!
Pier Francesco