segunda-feira, 2 de junho de 2008

Editorial

Delitos Escolaresmaio_68_Paris

Há exatos quarenta anos, protestos nas ruas parisienses, liderados por jovens na luta pela liberdade em todos seus aspectos, foram o estopim para uma verdadeira revolução contra os princípios de uma sociedade marcada por moralismo e opressão . No âmbito escolar, uma das maiores mudanças foi a perda de certa autoridade do professor, o que na época trouxe benefícios para a comunidade estudantil como um todo; os jovens se firmaram como entidade social e cultural independente e extinguiram-se os moldes arcaicos de ensino. Porém, o fim da impessoalidade na relação professor-aluno deu margem a um modelo de ensino no qual muitas vezes o mestre é feito refém de seus aprendizes; observa-se, não raramente, uma inversão de papéis graças à postura abusiva de alguns jovens, que apelam até mesmo para a agressão física.

A violência está e sempre esteve presente no cotidiano. Em todos os ambientes onde existe convívio humano, coexiste o conflito, principalmente numa sociedade desigual, consumista e individualista. Entretanto, considerando essa moderna posição do aluno em relação ao professor, questiona-se qual a responsabilidade de uma instituição que, por estar estritamente ligada à formação do indivíduo, pode ser tanto culpada quanto vítima dessa conjuntura: a escola.

As causas das crescentes ocorrências de infrações dentro das redes educacionais podem ser relacionadas com a relativa impunidade da qual se aproveitam os estudantes. Outro fator que estimula a violência escolar é o desinteresse dos aluno e o descaso com que encaram o ensino. A escolaridade hoje em dia não é mais sinônimo de emprego. Somado a isso, a quantidade de informação disponível nos dias de hoje, principalmente devido ao desenvolvimento tecnológico, fez com que a escola deixasse de ser considerada a principal fonte de conhecimento, dando espaço a constantes conflitos e contradições.Não se deve creditar somente às escolas, todavia, a responsabilidade pela guinada na violência. A falta de estrutura em boa parte das famílias brasileiras contribui, sem dúvida, para que os jovens ultrapassem os limites da convivência. Existem casos de estabelecimentos educativos que não têm sequer estrutura para educar, quanto menos para formar o aluno. Esta tarefa compete aos pais, que ultimamente deixaram de ser aliados ao corpo docente e colaboram na construção de uma prejudicial divergência no processo educativo.

Como uma crítica a essa situação, a equipe do blog desenvolverá essa semana o tema: delitos escolares e convida a todos os interessados a participarem através do Troca de Fluídos. A cada semana haverá a proposta de um novo tema, que será desenvolvido , através das diversas colunas. Então, participe, critique e ensaie!

Um comentário:

Anônimo disse...

Na primeira vez em que discutia com calouros e veteranos na universidade a respeito de nossas perspectivas quanto ao futuro profissional, falei que sempre quis dar aulas, e fazia o curso de química integral na unicamp como grande objetivo de me tornar professor. A reação de quase todos foi de estranheza, afinal, faz-se um curso de química e forna-se bacharel ou bacharel com atribuições tecnológicas, e caso sobre um tempo, torna-se licenciado em química para dar aula "se nada mais der certo". Quem dá prioridade à licenciatura?
Não é de se estranhar, afinal, como sobreviver sabendo que professores de escolas sofrem ameaças de alunos, tanto em instituições privadas quanto em públicas, ou chegam a receber menos que R$8,00 por hora de aula? Que profissional pode preparar uma boa aula trabalhando 10 horas por dia e ganhando apenas 2 salários mínimos por mês? Não vale a pena educar.
A educação é vista como algo já completamente degradado, sem possiblidade de investimentos em infra-estrutura, em bons professores, em bons educadores e em melhorias. Chegamos então ao impasse da educação. Soluções? Não vejo. Podemos culpar Brasília por não resolver, não investir, não reformar e construir escolas, e então cairemos então no senso comum. Realmente, não vejo solução.
Como futuro professor, que vai enfrentar os preconceitos e as dificuldades da profissão, espero apenas conseguir educar e mostrar para os alunos o que deve ser feito para que uma dia esses impasses (incluindo o da saúde, da segurança, do respeito ao ambiente) sejam, ao menos, minimizados.