segunda-feira, 13 de abril de 2009

Manchete

A Lei Antifumo e o Manual do Bom Indivíduo

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Aprovada a lei que restringe o fumo em determinados locais, uma discussão sobre seu conteúdo se faz necessária aqui nesse espaço.

O cigarro está restrito em bares, restaurantes e locais fechados com a justificativa de que o fumo passivo é prejudicial e desagradável. Aqueles que são contra a lei alegam a existência de diversos outros fatores que incomodam na mesma intensidade e que não foram censurados. Não deixa de ser verdade, mas uma coisa de cada vez. Por enquanto, basta defender uma restrição benéfica para a maioria.

A questão fica mais complexa, quando a lei define que os fumódromos também estão proibidos. Esses locais prejudicam unicamente e potencialmente os consumidores do tabaco, os quais fazem seu uso por escolha ou vício. O Estado limita dessa forma a liberdade dos fumantes, que, nesse caso, não interfere na vida alheia. Além disso, tenta, inutilmente, combater esse vício, considerado imensamente prejudicial. Seguindo essa linha de raciocínio deveria haver também a interferência legal na compulsão alimentar e no sedentarismo.

De maneira discreta e para alguns imperceptível, define-se nesse combate aos fumódromos aquela que seria a maneira correta de preservar o corpo em mente. Define-se a forma correta de viver. ‘’Fitter Happier’’, música da banda inglesa Radiohead trata justamente disso. O ser humano tem de praticar exercícios físicos três vezes por semana, comer menos gordura e não consumir bebida alcólica. Seria essa a real receita para a felicidade? A simples existência desse manual faz com que tudo que é contrário à ele sejá feito com certa culpa e portanto resulte em uma suposta infelicidade.

Caminha-se, assim, no sentido de um mundo ideal onde, da forma como sugere ‘’O Admirável Mundo Novo’’, todos os bebês seriam criados em bacias com líquido amniótico e uma voz em um alto-falante repetiria sem interrupções: “Produzir, não beber muito, dormir bem, nada de comida industrializada, não fumar”. Não é possível que esse seja o desejo da sociedade.

As liberdades individuais, as quais não interfiram nas alheias, merecem respeito de todos. Até mesmo do Estado.

Por Juliana Valente Zero

2 comentários:

hank disse...

O tema é muito delicado; não tenho uma opinião completamente formada. Mesmo assim, ouso fazer alguns esboços de minhas reflexões sobre o tema.

Quem defende a proibição de fumódromos argumenta que quanto mais complicado é para o fumante "exercer" o vício, maiores são as chances de ele desistir do cigarro. Com menos gente fumando, o governo economizaria os gastos milionários com saúde pública devido a males decorrentes do fumo; tais gastos representam um montante muito maior do que o arrecadado com impostos sobre a indústria do tabaco. Seria uma questão de política pública.

Entretanto, ao meu ver, o Estado não deve interferir na vida pessoal de ninguém. Se a pessoa não está fazendo nada de ilícito (no caso, fumar), não se pode fazer uso de manobras (proibir a existência de fumódromos) que tenham como único intuito o de dificultar a vida do fumante e dissuadi-lo do fumo.

Se sou contrário aos fumódromos, isso não significa, contudo, que condeno a lei como um todo. Sua maior glória foi conseguir definir como ilegal algo que há tempos já vinha recebendo condenação moral da sociedade: o fumo passivo em locais fechados. Não sou fumante. Por que teria eu que sofrer com os males do cigarro graças ao senhor que resolve acender o seu na mesa ao lado - ou na balada que frequento? Não tenho - e a lei vem justamente para defender esse meu direito.

Quer fumar? Fume e arque com as consequencias de saúde sozinho. Seja num fumódromo, seja ao ar livre.

Ju, parabéns pelo texto e pela ideia de abordar um tema interessantíssimo (pelo menos ao meu ver), que dá margem a discussões que dificilmente chegarão a um consenso, mas que, por outro lado, estimulam o debate e o pensar.

Ana Paula Messias disse...

A iniciativa parece boa, falta saber até quando o interesse é a saúde pública. Nesta sexta-feira, a Folha de São Paulo anunciou um fato curioso. Enquanto a lei é debatida, os centros de tratamento e ajuda ao viciado na luta contra a dependência, possui filas que levam quase sete meses. Detalhe: não há projetos nessa área, segundo Ministério da Saúde.
Além disso, corre-se o risco da falta de ficalização, como aconteceu com a tolerância zero do alcool (uma vez que existem 400 bafômetros para 9.000 cidades).
Bom, esperemos.



Ju, vc está escrevendo muito bem, parabéns mesmo!