segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Editorial

Tempo de pensar no tempo

A decoração de Natal das lojas já evidencia a chegada do fim do ano e um casual momento de reflexão: “Nossa, como o ano passou rápido!” Essa frase, repetida por muitos nesta época do ano, revela um típico sentimento de perda, existente no término de um ciclo. É a hora de avaliar aquilo que foi cumprido em tal ano e elaborar as metas para o próximo. No entanto, chegará o momento no qual o indivíduo se dará conta de que não há mais tempo para cumprir todos os objetivos traçados. Restará, então, a ele analisar o que foi alcançado ao longo de sua história e julgar os feitos de uma vida inteira de acordo com sua consciência. É um fardo que acompanha a todos e promove a percepção de algo que é indefinível: o tempo.

O homem, com sua percepção limitada, tem a ilusão de que pode medi-lo através de anos, dias, horas, minutos e, assim, conceber o passado, presente e futuro. Mas o que seria presente? Se, hipoteticamente, for definido como presente o terceiro mês de um ano, logo os dois primeiros meses terão sido passado e os nove meses seguintes pertencerão ao futuro. Porém, um mês possui trinta dias. Se no exemplo apresentado o presente corresponder ao quinto dia, os quatro primeiros já terão se decorrido, enquanto os restantes ainda não poderiam ser considerados presente. O fato é que o tempo é infinitamente fracionável, não sendo possível afirmar que presente, passado e futuro sejam puramente objetivos. Assim, não seria incoerente dizer que a percepção do tempo não surge de fato em um relógio, calendário ou cronômetro, mas, sim, nos objetos que não mais servem, nas pessoas que nunca mais são vistas, na apodrecer das frutas que não foram colhidas, nas lembranças já esquecidas. Surge nas fotos amareladas, nas flores já murchas e na pele já enrrugada.

Tenta-se fugir dos eventos relatados acima ou retardar seu acontecimento. Todos temem a passagem e, principalmente, o desperdício do tempo, num fenômeno que está altamente relacionado com o ato da escolha. Há o medo de realizar a escolha errada. Há o medo de chegar ao fim da vida e perceber que não viveu como gostaria. Há o medo de não haver mais tempo. Esses temores acarretam uma busca frenética pelo máximo aproveitamento do tempo, o que, curiosamente, faz com que ele pareça cada vez mais curto. Enquanto isso, sentar, tomar um café e debater com o outro, refletir ou ociar sem compromisso algum, escutar uma história de vida sem algum propósito posterior - tudo isso se tornou perda de tempo, em uma corrida na qual o homem não sairá como vencedor.

O tema dessa quinzena será O Valor do Tempo, prolongando a discussão do Café Filosófico de 2008. Sinta-se à vontade para escrever textos e comentários e participar desse debate. Acredite, não será desperdício de tempo.

2 comentários:

Giovana Nunes disse...

Até que ponto o presente realmente existe, sendo o passado passado, o futuro estando por vir, e o passado se tornando em um piscar de olhos também passado?
Tá lindo o texto. Adorei
Vou madar algo pra vcs
Um beijo da vossa colunista de férias por seis meses (vulgo, intercâmbio) Gi

Giovana Nunes disse...

*presente se tornando passado em um piscar de olhos