A primeira vez que vi "O fabuloso destino de Amelie Poulain" (Jeunet) acreditei estar diante de uma típica mal-amada, mas acabei concluindo que o filme era mesmo uma homenagem aos tímidos... Acho que o mundo é dos tímidos, o que pode-se considerar uma tragédia porque, ultimamente, quem quer expor-se mais que a média acaba ganhando diploma de artista ou um convite ao picadeiro. A onda politicamente correta é ser normal, ou seja, retraído para que se tenha chance de errar menos. A internet dá essa chance a todos, mas acho que só os tímidos aproveitam, pois se escondem sob pseudônimos criptografados e morrem de medo de ficarem desconectados, daí eles saem menos de casa, menos gente no trânsito. Um mundo para os tímidos seria muito trágico porque o tímido gosta de silêncio, de reza, deterapia e, geralmente, quer ser abordado ao invés do contrário. Ser tímido pode ser uma virtude quando se está perto de gente espalhafatosa que dá opinião sem ser chamado, que grita e canta logo cedo, enfim, ser tímido só é bom quando se está próximo a pessoas chatas.
Os retraídos tiveram chance de dominar o mundo, uns quinhentos anos atrás, com a chegada da imprensa: poderiam escrever livros, escrever mais cartas e enviar para o destino sem precisar registrar remetente. Não deu muito certo. Desde então vimos sucesso de gente como Machado de Assis, Dalton Trevisan, Lady Diana, Chaplin ou Isaac Newton, tímidos famosos. Agora,vejam só, com advento da internet, correios eletrônicos, blogs e afins, essa ferramenta veio dar outra chance aos tímidos... Hoje, via computador,pode-se escrever e expor parte das vísceras sem muito medo de julgamento ou, na melhor das hipóteses, podem expor-se e recusar qualquer crítica, bloqueando mensagens que pareçam indesejadas, um primor. A internet deu uma segunda chance aos tímidos, não sei se aproveitarão.
Carlos H Carneiro
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