Pediram-me que escrevesse sobre a morte e, confesso, nunca havia escrito nada sobre ela, antes. Nem mesmo tinha certeza de haver pensado nela com carinho. Sim, carinho, pois acompanhava-me sem reclamar, calada, quieta, segura de si, senhora da verdade.
Fomos apresentadas muito cedo ainda, e toda aquela sua frieza não me impediu de chorar. Desde então, penso nela, sofro com ela, convivo com ela. E, enquanto vou amadurecendo, torno-me mais condescendente, menos crítica, mais amiga dela. Conquistei o direito de matar minhas vontades, enterrar paixões antigas, ser bagunceira e extravagante — morria o orgulho em mim, nascia-me a deliciosa sensação de liberdade. Quem iria me censurar? Morria em mim o medo. Passei, então, esquecida de muitas coisas, a perdoar. Brotava em mim a compreensão que me ensinou a compaixão. Ligando menos para o que os outros pensavam, sem questionar-me mais, conquistei, também, o direito de estar errada e não ter de dar explicações. Morria em mim a rejeição. E eu me amei mais e aprendi a amar o outro. Não me senti mais sozinha nem tive medo da morte. Penso que nunca mais me sentirei só... Quem me ensinou tudo isso? Ela, a morte — segura de si, senhora da verdade, certeza fiel.
Por Profª Maria Christina Daminelli Alves de Oliveira
terça-feira, 28 de outubro de 2008
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