Em tempos nos quais a popularização da arte pela Internet corre o risco de passar por efêmera devido à sua extrema rotatividade, a moderna opção de eleger a tela do computador mais próximo ao escurinho amanteigado de uma sala de cinema não só existe como também passou a contar no rol de apreciações e méritos dos cinéfilos em todo o mundo. Justamente, eis a maior tentação cibernética aos amantes da sétima arte: universalidade.
Após séries de empecilhos burocráticos, autorais, tecnófobos e éticos, o cinema cibernético ganhou oficialmente seu espaço. Além de haver a possibilidade de lançar longas e curtas unicamente na rede mundial, agora diretores de todas as nacionalidades concorrem também a premiações das mais variadas espécies. Inclusive, diga-se diretor de qualquer indivíduo com uma boa idéia, uma câmera na mão e acesso ao YouTube. Pois na atualidade as celebridades surgem tão repentinamente quanto estouram em vídeos amadores, profissionais, artísticos, documentários ou até mesmo delatores de gafes de programas ao vivo e desempenhos de famosos artistas. Visando apontar os melhores dentre a miríade cinematográfica, separando joio de trigo fílmico, emergiram os festivais de cinema na Internet.
Fluxus – Festival de Cinema na Internet (www.fluxusonline.com)
Interativo, dinâmico e abrangente. Fluxus nasceu na virada do milênio, disponibilizando atualmente um grande acervo de vídeos provenientes de diferentes países participantes. As amostras são divididas em três categorias distintas: Anemic, contendo animações brasileiras, norte-americanas, inglesas, francesas, holandesas, italianas e estonianas; E.Cinema, responsável por documentários, ficções, experimentais e vídeo-arte; e a mais inovadora, Cinemobile, que coleta filmes capturados a partir de celulares e outras mídias alternativas. Além do júri especializado, o evento conta com a participação popular, sendo estimulado o voto na melhor obra dentre todas as categorias. Em geral, a página dá acesso a bem diversos tipos de filme, enaltecendo a liberdade que tem o homem contemporâneo de se expressar da forma que bem entender, onde bem quiser, quando bem puder.
YouTube Awards (www.youtube.com/ytawards07)
Seguramente, o mais acessível dentre todos os festivais de cinema digital. Nada mais lógico que criar um prêmio formal para a fábrica de celebridades instantâneas mais veloz do entretenimento moderno. A premiação foi inaugurada muito recentemente, no ano retrasado. Os vencedores receberam troféus no formato da tecla ‘Play’, localizada na tela de reprodução do site. Os vídeos a serem listados como nomeados são escolhidos pelos funcionários do site dentre os mais acessados, organizados em 12 categorias distintas e então colocados para a votação de YouTubers – os chamados freqüentadores assíduos da página. As obras se dividem segundo a seguinte organização: Adorável, Comédia, Comentário, Criativo, Testemunho, Inspirativo, Instrutivo, Música, Política, Séries Televisivas, Curta metragem e Esportes. O site fornecido acima contém todos os títulos do YouTube Awards 2007, incluindo os indicados e vencedores.
Àqueles que apreciam o humor astuto da sátira, deixo um curta metragem norte-americano vencedor do Sundance Film Festival. The Parlor (2001), sem tradução para o português, retrata um chat com uma singularidade mais que interessante: a sala de bate-papo é real. Geoffrey Haley, diretor e escritor, pontua claramente todos os arquétipos freqüentadores de ambientes cibernéticos como esse: obesas solitárias, candidatos a pedófilos, homossexuais assanhados, homofóbicos machistas e adolescentes com ar de Lolita figuram nessa breve e divertida sátira ao universo paralelo que criamos ao nos conectarmos à rede, onde tudo é possível e nada, absolutamente nada, recriminável.
Por Renan Trindade
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