A Amazônia é nossa

Nos últimos 12 meses, uma área equivalente a seis vezes a área da cidade de São Paulo foi desmatada na Amazônia. Esse número chocante desencadeia questionamentos em âmbito mundial. A quem pertence esse patrimônio de valor inestimável? Quais são as atitudes que devem ser tomadas para sua preservação? Seria a internacionalização dessa riqueza natural um benefício humanitário?
A Amazônia é hoje, sem dúvida nenhuma, o maior patrimônio de biodiversidade existente no planeta. Considerada a maior floresta tropical úmida do mundo, possui mais de 20% das espécies vegetais e animais catalogadas atualmente. A importância da Amazônia, contudo, é contrastante com a incapacidade do governo brasileiro de conter o desmatamento da floresta. Desenvolvimento sustentável é um conceito que, desconsiderando-se as exceções, não chegou na região amazônica. A exploração da floresta é predatória: um ciclo que envolve madeireiros ilegais, grileiros, criadores de gado e sojicultores dá à Amazônia características de uma verdadeira "terra sem lei".
Diante de um quadro tão negativo, multiplicam-se as vozes no exterior que apresentam propostas de internacionalização da Amazônia. Apesar de rejeitadas pela maioria do povo brasileiro, elas são vistas com bons olhos no exterior. Na teoria a internacionalização parece louvável: a incompetência do governo brasileiro seria substituída por intervenções de todo o mundo, cujo objetivo seria essencialmente preservar a Floresta Amazônica. No entanto, há evidências de que os interesses estrangeiros não são ao todo bem-intencionados. O multimilionário sueco Johan Eliasch fundou uma ONG que incentiva a compra de terras na área amazônica por estrangeiros. As terras adquiridas pela entidade já representam uma área maior que a cidade de São Paulo. A iniciativa é ousada. De acordo com as leis brasileiras, a exploração de terras por estrangeiros é restrita à faixa de fronteira, com 150 quilômetros de largura e paralela à linha divisória do território nacional. A aquisição do sueco localiza-se na divisa dos estados do Mato Grosso e Pará e somente foi possível por ter sido realizada através de um fundo de investimentos, possivelmente uma forma de driblar a legislação. Mas a dúvida maior se concentra no porquê desse investimento. Estaria Johan tentando generosamente proteger a floresta? O projeto de sua ONG já é apontado como uma fraude e já existem indícios de devastação nas terras compradas pelo milionário. A suposta boa ação pode ser uma ilusão.
A História nos ensina que os países ricos dificilmente resistem à tentação de exercer domínio sobre os economicamente menos favorecidos. Foi assim no neocolonialismo, é assim na globalização. O Brasil deve lutar contra pressões internacionais a fim de garantir que sua soberania esteja acima de qualquer interesse estrangeiro. Se aberta uma brecha para a ingerência externa no País, dificilmente o Brasil conseguirá fazer valer a autonomia sobre as decisões em seu território.
Sustentabilidade: este será o tema desta quinzena. O Ensaio convida novamente todos os leitores a enriquecerem o blog através do Troca de Fluídos com seus comentários, sugestões e opiniões e a continuarem acompanhando os diversos artigos que serão publicados.
Gostaríamos de comunicar nossos leitores que a partir de hoje os artigos serão publicados de dois em dois dias. Portanto, cada tema será desenvolvido quinzenalmente e não mais semanalmente.
Um comentário:
Desta vez, gostaria de deixar um recado bem curto, basicamente por quê o tema foi excelentemente desenvolvido (parabéns novamente à equipe). O recado é este, e é uma pergunta: Será que as Leis brechadas por estrangeiros não são feitas propositalmente para isso?
Gostaria de saber qual a reação dos leitores à pergunta, opinando-lhe.
Grato,
Pier Francesco
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