O fim da vida escolar dos alunos do terceiro ano, por sua devida importância, é todo ano celebrado com pompa na festa de formatura. Como de praxe, ela foi precedida pela colação de grau, que neste ano deu-se em dois dias diferentes: 17 e 19 de dezembro, no auditório do Porto.
A redação gostaria de compartilhar com vocês, leitores do blog, um dos discursos lidos nas colações de 2008, além de algumas fotos da festa realizada no The Royal Palm Plaza.
A todos que nos acompanharam ao longo deste ano, um 2009 de muitas conquistas, aprendizados e, principalmente, ensaios!
-------------------------------------------------------------------------------
Caros formandos, ou melhor, caros colegas, boa noite!
Chegamos ao fim de uma etapa de vida. Essa é provavelmente a primeira coisa que nos vem em mente ao pararmos para pensar no significado deste momento que estamos vivendo aqui, nesta noite. Ok, talvez alguns de nós já estejam cansados de ouvir termos como "o término de um ciclo" ou "uma nova porta que se abre". A freqüência com a qual essas expressões têm chegado a nossos ouvidos desestimula-nos, ao meu ver, a analisarmos com mais crítica e profundidade o cerne de seus significados.
Pois bem, para fazermos uma análise digna devemos recorrer a um dos nossos maiores tesouros: a memória. Façamos um esforço. Quem se lembra aqui da primeira vez que seus pais lhe trocaram as fraudas? Alguém? Lógico que não. Nossa primeira fase de vida, apesar de ter sido de vital importância para o nosso desenvolvimento, não nos deixou de herança muitas lembranças. Por isso, passemos para a próxima: a infância. A partir dela já começamos a perceber que a escola foi quem propiciou uma série de eventos inesquecíveis. Posso citar lembranças genéricas mas que, possivelmente, são compartilhadas por alguns de vocês: o polícia e ladrão na terceira série, o futebolzinho jogado durante apertados 15 minutos de pátio, as centenas de idas à enfermaria (sendo que 90% delas só para tomar o famoso chazinho) e o pior dos fantasmas: as tão temidas... anotações no diário (uhh!). É impossível olhar para a infância sem uma certa dose de saudosismo. Uma época em que o sorriso se fazia onipresente, estampado na cara de cada um de nós; uma época em que as preocupações eram praticamente inexistentes.
Quando foi que deixamos, em maior ou menor grau, parte disso para trás? Em momento nenhum. A transição deu-se de maneira gradual, na medida em que fomos amadurecendo e chegando à fase em que estamos. Aos poucos tivemos que criar responsabilidades e, quando nos demos conta, éramos adolescentes. Novamente, a escola teve papel inconteste na formação de nossas lembranças. Quantas paixões não tivemos no ambiente escolar? Quantos "cantinhos" ou muretas não escolhemos para beijos intermináveis? Quantas não foram as situações hilárias que vivemos durante os trotes? Quantas coisas inusitadas ocorreram no meio da sala de aula? Quantas amizades, já nascidas eternas? Quantas piadas... ok, chega, é melhor parar por aqui.
Enfim, essa fase escolar deixou diversas lembranças incutidas em nossas mentes e corações. Inevitavelmente, tudo o que termina deixando lembranças, deixa também saudades. Foi assim com o Mateus Lisboa. Será assim com essa fase que se encerra agora. Todavia, existe uma diferença substancial entre a mudança pela qual estamos passando e as outras que já se foram: a atual se dá de forma abrupta, repentina. Não é fruto de um processo, como foi a passagem da infância para a adolescência, mas é conseqüência de um acontecimento: o fim da escola. A magnitude do que estamos vivendo nesta noite deriva justamente do fato desse momento ser um divisor de águas. É a última vez que estamos no Colégio na condição de alunos. De agora em diante, nossa memória não registrará mais novas vivências de nosso período escolar. Acabou-se.
Contudo, parafraseando Los Hermanos, é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê. O fim pode parecer triste por um lado, mas revela-se desafiador se encarado sob uma outra ótica. É hora de voltarmos nossa atenção para o futuro. Um futuro no qual, talvez pela primeira vez em nossa existência, teremos possibilidade de sermos plenamente senhores de nós mesmos, decidindo os caminhos a serem trilhados, explorando cada uma de nossas potencialidades humanas.
Está, portanto, nas nossas mãos o nosso destino. Depende somente de nós se ele há de ser grandioso ou insignificante. E, como disse Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, para ser grande, sê inteiro. Ser inteiro inclui reconhecer-se como ser limitado, dependente do coletivo; valorizemos, pois, o próximo na condição de nosso semelhante e trabalhemos pela promoção de sua dignidade. Ser inteiro, porém, acima de tudo, é não desprezar nenhum de nossos ideais. Ao contrário, deixemo-nos conduzir pelos sonhos, transformando a luta por suas realizações em combustível para a renovação da esperança. Entretanto, a prudência é necessária quando trata-se de sonhar. Devemos evitar fazer dos sonhos nossos senhores. Para isso, nossa esperança deve ser construída calcada em experiências passadas. Experiências passadas... quantas não tivemos na nossa fase escolar? Eis que, novamente, a instituição de ensino revela sua importância. A escola nos faz inteiros e, com isso, engrandece nosso ser.
Ao despedirmo-nos dela, nesta noite, nada mais justo que deixar um agradecimento àqueles que contribuíram para que chegássemos no grau de maturidade no qual nos encontramos hoje. Primeiramente, obrigado, mestres, não só pela dedicação que empregaram na árdua tarefa de transmitir parte de seus conhecimentos a nós, alunos, mas por terem sido, de quebra, capazes de deixar lembranças e lições que levaremos conosco ao longo de nossa caminhada. Obrigado, funcionários, entre serventes e bedéis, porteiros e secretárias, coordenadores e diretores, por mostrarem tanto empenho em garantir o nosso bem-estar ao longo de nossa estadia na escola. Obrigado, Colégio Visconde de Porto Seguro, por ter sido ambiente propício para a formação de tantas amizades. Amizades que nos fazem ver a luz onde só enxergamos sombras, amizades que nos abrigam sob a sombra quando estamos cegos pela luz. Amizades que fizeram de momentos comuns, memórias inesquecíveis.
Sim, memórias, um dos maiores tesouros que podemos possuir. E, como afirmou sabiamente alguém há dois mil anos atrás, onde está o nosso tesouro, está também o nosso coração... Certamente, um pedaço do nosso fica nesta escola depois desta noite, repousando serenamente nas alegrias aqui vividas.
Que se abra a nova porta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário