quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Can you tell me where my country lies?



"Citizens of Hope and Glory



Time goes by"





Para comentar da música relativa à política uma consideração importante a ser feita é o período de retrato, sendo que a maleabilidade da arte pelo meio que se vive é imensa.
Primeiro as raízes internacionais. O alvo de ataque são as descrenças políticas, as quais geram esperanças mínimas à população e tornam-se motivos de deboche de quem faz arte. O punk, como meio rebelde, defende a anarquia onde a índole humana é a maior motriz política. Tudo soa como se fosse uma ignorância ao que é feito, como se tudo não prestasse. Mais vale o espírito animal de todos os homens sem nenhum governo, do que o espírito animal multiplicado de poucos homens ao poder.
A Guerra do Vietnã foi grande desencadeadora de movimentos sociais com visões políticas. As maiores críticas voltaram-se à violência e ganância do governo, que claramente despreza a vida dos que não interessam para gerar um interesse. Sons de paz foram os mais entoados, encaminhando pessoas a unirem-se. A partir daí surge o princípio das críticas ao sistema capitalista ao ponto de hippies serem considerados socialistas. O fato é que o capitalismo prevê oportunidades iguais a partir da liberdade, mas as pessoas tornaram-se escravas políticas desse sistema. Foi inclusive a época da denominação de folk ao gênero cantado por Bob Dylan e Joan Baez. Estes viraram sinônimos de sons ativistas.
Para o lado progressivo podemos citar o teatral Genesis, liderado por Peter Gabriel. O terceiro álbum desses a fazer imenso sucesso estampava a capa com o título ‘Selling England By The Pound’. Nesse caso a política e o sistema são tratados de maneira mais figurativa, teatral e existencial, afinal, estamos falando da essência progressiva!
O reggae foi guiado pela idéia de que o maior governante de todos é a paz, e um grande instrumento para atingir isso seria a música. Hoje, o senso crítico do estilo está mais voltado para o lado social, tal como a maioria dos raps.
Chegando ao Brasil, a ebulição e conhecimento de obras musicais políticas se deu na Ditadura Militar, curiosamente a partir da repressão. Creio que se os militares previssem que a repressão seria tão produtiva culturalmente a ponto de os olhos sociais terem se voltado para a música não teriam se apropriado desse meio. Em tempos atuais de liberdade produtiva, a sociedade volta uma quantidade muito menor de olhares às críticas.
Chico Buarque tornou-se o mais famoso compositor destes tempos, procurando sempre burlar as imposições e criticar o sistema impositor. Muitos são da opinião de que se ele não fosse de família rica, teria sido facilmente assassinado pelo governo. Outros rostos marcados eram os de Geraldo Vandré, Ivan Lins, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Cazuza foi o símbolo da juventude que saía nas ruas ordenando ao Brasil mostrar a sua cara. Sua irreverência, seu jeito despachado e idéias contra burguesas, mesmo que hipócritas, cativaram o público energético.
Raul Seixas fez imenso sucesso com suas idéias de uma Sociedade Alternativa. Leitor assíduo transferiu suas idéias filosóficas para suas músicas. Esse era um descrente da ascensão social através da política que comanda o país. Suas idéias até se confundem com pensamentos de Platão, onde a sociedade devia ter uma filosofia perante a si. Mas diferente de Platão, acreditava na igualdade e liberdade total.
Caminhando na linha do tempo têm-se canções como ‘Homem Primata’ e ‘Que País É Esse?’, que em show tem a bela resposta: é a porra do Brasil. Os artistas passaram a observar os seus arredores e relatar a miséria por suposta má condução do país. Em seus objetivos, o desejo do povo abrir os olhos e tomar alguma atitude já que de cima nada vem e nada atinge.
Em fim, hoje. Os impactos de todos esses sons se reduzem ao nada. Um povo espelho de seu governo anda pelas ruas. Pessoas que compram a rebeldia em shoppings colocando piercings e fazendo tatuagens. Pessoas que pensam comprar revolucionismo em livros do Cazuza e se contentando em ficar de braços cruzados exibindo a aquisição. Aliás, quem dá valor às músicas como as de Gabriel o Pensador que se referem ao povo como fator do produto político que temos. ‘Pega Ladrão’, uma de suas composições, é um grande exemplo disso. O que ocorre é a carência de uma classe transformadora e idealizadora. Sendo assim, a música cria uma descrença não só política, mas também social.

Bruno Barufatti

Um comentário:

Anônimo disse...

eu sei que é triste, mas você já pensou, que mesmo criticando, só fazemos parte dessa classe de pessoas citadas no último parágrafo?